domingo, 29 de setembro de 2013

De repente, A morte


Vou contar uma coisa que me aconteceu hoje. 
Eu tinha ido dormir na casa da minha amiga no sábado (ontem), e logo cedo no domingo (hoje) já precisava estar na parada de ônibus para chegar em casa. Me sentei um pouco em um banco que lá se encontrava, como eu já estava impaciente, me levantei e fiquei observando a rua até um ônibus chegar, mas nada apareceu... Em seguida, algumas meninas da minha escola chegaram e se sentaram no mesmo banco, já estava cansada de ficar em pé e fui me sentar. Quando me virei, reparei que tinha um senhor conversando com elas. Era um senhor bem vestido, com um paletó preto com algumas listras bem finas e claras, um chapéu na cabeça e alguns papéis preenchendo as mãos. Ao olhar de relance, me assustei um pouco, pois não é muito normal ver um senhor tão bem vestido de manhã, principalmente na cidade que eu moro. Me aproximei do banco e me sentei junto a eles, mas não entrei na conversa em nenhum momento. Percebi que os papéis que ele segurava se tratavam de cartas; logo me animei, adoro ouvir o que as pessoas dizem em cartas, acho lindo. Inclusive, prefiro cartas do que internet. Seria tão bom se as pessoas pudessem resgatar alguns costumes. Enfim, ouvindo a conversa, reparei que o senhor estava chorando. As meninas da minha sala estavam lendo pra ele, o que estranhei um pouco. Um senhor que estava tão bem vestido, falava palavras tão pomposas... Não sabia ler? 
Ouvindo o que havia nas cartas e alguma parte da conversa deles, entendi algumas coisas. Quem escreveu as cartas foi uma filha dele que não mora mais aqui, no Brasil. Ela é de Florida ou Chicago, se não me engano. Perguntava se ele estava bem de saúde e porque não iria ficar um tempo com ela... Dizia que sua neta iria fazer aniversário no mês que vem (outubro) e adoraria que ele estivesse lá. 
"Mas ela não pode vir pra cá. Ela diz: Eu sou federal, papai. Não posso ir", ele disse isso em um momento, enquanto conversava com as garotas. Compreendi que ele era uma pessoa completamente só. Eu queria saber mais da vida daquele senhor. Meus olhos se enchiam ao observá-lo. Pessoas assim são tão raras... Queria viver em outros tempos. Os tempos que cartas eram algo comum, por exemplo. Ainda os ouvia... Palavras aleatórias como "doença", "Rio de Janeiro", "dinheiro". Ele falava para as meninas:
"Me perdoem o vocabulário... Por favor, me perdoem! Mas dinheiro é uma bosta. Do que adianta ter várias casas em lugares diferentes se você é alguém sozinho? Do que adianta poder comprar tudo o que quiser se não vai poder levar consigo depois? Não adianta, não adianta! O mais valioso não se pode comprar com o dinheiro. Se você tem alguém que você ama por perto, por favor, ame essa pessoa... Esse rapaz, esse homem, um amor... Apenas ame, pois dinheiro não pode comprar."
Ele falou várias coisas bonitas, que não lembro no momento. Mas na hora fiquei pensando muito. Pensando em tudo... Nos nosso verdadeiros valores, sobre o que o dinheiro representa na vida de algumas pessoas, entre outras coisas. Quando ele saiu, ofereceu um cartão postal com a foto do Pão de Açúcar para uma das meninas, agradeceu por elas terem lido e sumiu entre os carros. 
Uma das meninas comentou: "Nossa, ele é muito rico!", confesso que me bateu um pouco de raiva. Comecei a conversar com a menina que estava lendo. Ela disse que ele estava com depressão. Os filhos não moravam mais com ele, estavam em outro estado ou país. Sua esposa havia falecido há 15 anos. E ele ainda a amava. Se remoía por não estar mais com ela. E a garota ainda disse que ele havia falado "Do que adianta eu ir pra outro canto se a Diva (nome da esposa dele) não está mais comigo?". Sua doença trata-se de uma hérnia na perna, que ele não quer curar ou tratar. Ele falou que não iria em médico nenhum, que deixaria do jeito que estava. Perguntei o motivo para elas, e me responderam que é porque ele quer morrer logo pra ficar mais próximo da esposa. Isso me doeu tanto o coração. Depois, pensando... Talvez ele não queria ler as cartas porque as palavras machucavam tanto que não podia suportar. Queria ficar na minha cidade, pois tudo lembrava a Diva. Diva... Por que você teve que ir? Há um amor esperando lhe reencontrar. Diva, por favor, não deixe-o morrer na esperança de tudo voltar. 
O que aprendi hoje é que devemos dar menos valor às coisas materiais e amar mais as pessoas. As pessoas que estão ao nosso redor. Afinal, do que adianta termos tudo e ao mesmo tempo nada? Quando morrermos inesperadamente não levaremos nada. Pensem nisso, por favor.

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